Esta idade, pássaro triste pousado no leito azul deste rio sempre em corrida com destino marcado, ao sul da vida, vento Suão forte navegando-nos a pele pelo norte, mas que sucumbe sem apelo (...)
Mar de dentro, a aparente tranquilidade deste tempo, desta idade, na conjugação do ser e do sentir. Mar de dentro, mar metafísico do devir nesta latente serenidade que não sendo ainda luz por (...)
O silêncio escoa lento na ampulheta cabisbaixa dos minutos, ecoa pesado na fímbria madura e vibrátil das horas, acama-se sedimentado no aluvião vencido dos dias repetidos. O silêncio (...)
Alinhavo palavras como quem, sem jeito, costura as dobras do vento. Raízes suspensas no arame deste tempo já sem tempo e sem alento. Vã espera, na esperança que das próprias trevas do caos (...)
Tal como um búzio caído Meu amor À beira-mar Pus na guitarra o ouvido Tive a alma a soluçar Pelo mar Com o mar Foi tão triste essa alegria Vibrando cá bem no fundo ó Meu amor, como (...)
Chama-me! E eu logo acudo. O encantamento da luz, No quase-nada que é tudo; A nora sem alcatruz. O açude que é regaço, Inverno sem albornoz Da alcova negra que faço Para o descanso da voz. (...)
Só a mente cósmica, solidários do lume, nos une. Só ela em todas as coisas permanece. Inclinas a cabeça, não suportas o conhecimento. A súmula permanência da morte incandescência (...)
Tango. Tango-te. Tangas-me. Os corpos alados suados na cadencia dos passos excitados enlaçados na volúpia brava do desejo limitados no curto laço dos braços e da promessa dum beijo. A (...)
Se é clara a luz desta vermelha margem é porque dela se ergue uma figura nua e o silêncio é recente e todavia antigo enquanto se penteia na sombra da folhagem. Que longe é ver tão (...)
Livre não sou, que nem a própria vida Mo consente. Mas a minha aguerrida Teimosia É quebrar dia a dia Um grilhão da corrente. Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a (...)
Peço a paz e o silêncio A paz dos frutos e a música de suas sementes abertas ao vento Peço a paz e meus pulsos traçam na chuva um rosto e um pão Peço a paz silenciosamente a paz a (...)
Descalça vai para o mar Maria pela manhã Leva xailinho de lã Leva pressa no andar Leva na orla da saia Raminhos de muitas flores Lembrança dos seus amores Espalhados pela praia Leva nos (...)
O Algarve (al-Gharb ) foi considerado, durante séculos, e até à proclamação da República Portuguesa em 5 de Outubro de 1910, como o segundo reino da Coroa Portuguesa — um reino de (...)
Quem sabe o que pensam os homens na crista das ondas de um tempo esquecido sem o astrolábio que os leve a bom porto… Josefa Lima, no livro “Confluências” (Vila Real de Santo (...)
Que a minha ínfima essência Atravesse o mar E o mar me embale e me cubra Com a sua transparência E o meigo sol Alegre a minha eternidade E as gaivotas me tragam O riso das crianças (...)
Flutuar. Apenas e só flutuar. Flutuar sem outra preocupação que não essa. A de flutuar. Em puro abandono, manter o dorso à flor da espuma e do sal, paralelo ao curso irregular (...)
Deus — talvez esteja aqui, neste pedaço de mim e de ti, ou naquilo que, de ti, em mim ficou. Está nos teus lábios, na tua voz, nos teus olhos, e talvez ande por entre os teus cabelos, (...)
Vai até à sombra da paz e do conforto A fragrância das flores; Rubras papoilas (Lábios de efebos, que não de moçoilas), Frescura dos prados, Fresquidão do horto. Manuel Neto dos (...)
Gosto de acreditar que a vida não acontece por acaso. Que não vivemos apenas de forma aleatória. Que as coisas que nos acontecem — sem serem opção claramente nossa — não (...)
Casa Tradicional Inspirações mouras A arquitectura tradicional algarvia reflecte a história, o gosto popular e as necessidades das gentes do sul. A brancura da cal nas paredes, eficaz (...)
Há todo um mar inteiro, imenso e manso na volúpia e no balanço desse teu jeito de caminhar. Anca subida, maré cheia anca em baixo, praia-mar um subtil maneio, um enleio que (...)
O meu bem a sério Inda não nasceu Deus queira que nasça Deus queira que nasça P'ró amar sou eu. Lá vem a cegonha No bico um raminho De meia encarnada Vem dando à chegada (...)
Acordei com saudades tuas. Há algum tempo que as saudades não me acordavam assim. Fiquei às voltas a relembrar-te. Quanto mais te relembrava, mais vontade sentia de te contar os meus (...)
Há muito partiram os dias de então, Com a tabuada cantada ao serão! Quase nada resta a não ser o verão, Das tardes brincando jogando ao pião… Alfarroba torrada, azeite no pão, Broa (...)
Serei minúscula gota de água na garganta de uma ave ou na corola de uma flor serei incandescente poalha na cauda de um cometa e aterrarei no magma adormecido numa praia qualquer serei (...)
Naqueles tempos antigos, Em tempos que já lá vão, Viviam como inimigos Os Povos moiro e cristão. Era a guerra sempre acesa, Tremenda, brava e cruel, E, ao redor, a natureza, Se (...)
Eurydice perdida que no cheiro E nas vozes do mar procura Orpheu: Ausência que povoa terra e céu E cobre de silêncio o mundo inteiro. Assim bebi manhãs de nevoeiro E deixei de estar (...)
Amo-te. Amo amar-te. Ontem foste cascata, hoje és torrente, amanhã quem sabe? Talvez um rio. Um rio paciente? Exaltado? Amo amar-te e nunca sei quantos somos nesta cama: sinto a terra, (...)
Conta a lenda que o Rei Afonso III vivia na altura no castelo de Albufeira, nas muralhas do castelo, apaixonou-se pela escrava, uma moura que se chamava Alina, era uma moura muito linda e o (...)
Há muito partiram os dias de então, Com a tabuada cantada ao serão! Quase nada resta a não ser o verão, Das tardes brincando jogando ao pião… Alfarroba torrada, azeite no pão, (...)
Saboreio deliciado a poesia inata do silencio em cada quase manhã que me acontece. No murmúrio mudo da ondulação em constante e esverdeado vaivém, no canto surdo das aves no (...)
Não consigo viver sem dar ou receberamor Só vivo bem com afeto, de peito aberto, coração repleto, só assim sou eu, inteiro e completo. Por isso, entendo e sou solidário com este meu (...)
Esse teu segredo Não quero mais nada; Que a nudez rasgada Se mostra sem medo, Na terra deitada. Aberta, despida, Esperando a semente Lançada, e esquecida, Que é parte da gente. O abrolho, (...)
Ondas que descansam no seu gesto nupcial abrem-se caem amorosamente sobre os próprios lábios e a areia... António Ramos Rosa Fotografia de Isaura almeida
Eu escrevo versos ao meio-dia e a morte ao sol é uma cabeleira que passa em fios frescos sobre a minha cara de vivo Estou vivo e escrevo sol Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam no vazio fresco
Subitamente regresso ao chão da infância, à velha casa na serra deitada. Essa casa que todos os dias abre a sua brancura aos braços do sol, ao céu para sempre azul. E parece o mesmo ess (...)
O hálito do mar feito brisa e maresia lambe-me as artérias, excitando a glândula da inspiração. Daí a acentuada salinidade do verbo, o remoinho das vogais, no azul das consoantes e na (...)
Como o rio sobe os últimos degraus Do cais… trepo por ti Na languidez do beijo. Preia-mar de insónia E do desejo; Bocas de sal e de cristais. Manuel Neto Dos Santos (...)
Meus poemas são gaivotas Que partem p'ró infinito... Em terra soltam o grito Vão para terras remotas Nessas paragens ignotas Elas vagueiam no espaço Anseiam por outras rotas Onde não (...)
Pátria pequena, deixa-me dormir, Um momento que seja, No teu leito maior, térrea planura Onde cabe o meu corpo e o meu tormento. Nesta larga brancura De restolhos, de cal e solidão, E ao (...)
Enquanto nos teus olhos encontrar O verde das searas A imensidão do mar E essa explosão de estrelas que brilha no luar. . Enquanto o sol brincar no teu sorriso E o dia amanhecer Doce, (...)
Estou de partida E eu, aventureira, Que desejo tanto esta evasão De repente… Paro e sou, somente, Dúvida, medo, hesitação. A terra inteira Se estende à minha frente ! Sonhei partir, E (...)
Colado à fragrância da rosa o movimento do ser que dança e flutua negando a gravidade nesse singular momento no espaço e no tempo flor e ser são já eternidade Josefa Lima (...)
Entre os dedos volantes do silêncio e da água nasceu a palavra A palavra é a minha nudez pela palavra liberto-me da canga que resta no pescoço já roçado Josefa Lima, no (...)
O sol na serra cheira a alecrim, A rosmaninho, urze e azinheira. Ribeira rega o chão como jardim E nos vales perdura a laranjeira. A flor da esteva cobre a ribanceira, Que namora o (...)
Noite de mármore branco esplendente (João Lúcio) Em teu sorriso; todo o universo. Descrevo o amor bissexto, tão disperso, Inscrevo a tua ausência… e fico ausente. Ausente do (...)
Oh dôce luz! oh lua! Que luz suave a tua, E como se insinua Em alma que fluctua De engano em desengano! Oh creação sublime! A tua luz reprime As tentações do crime, E á dôr (...)
Começo o dia a fazer gestos supérfluos mas de que me sustento: Digo “Bom dia” às flores da casa e da varanda mesmo às urtigas que aí agora proliferam. Não, não as extermino. (...)
No tempo antigo de Gharb mourisco, um cristão corria riscos e vivia perigos e a própria natureza emudecia, perdia cor e brilho sob a Lei moura. Nos seus grandes castelos ao longo do (...)
No ranger de tábuas do meu veleiro no rangido seco do casco da minha cama eu confundo com prazer o ruído ondulante do mar que me chama com o rumor fervilhante do teu corpo de mulher. Miguel Afonso Andersen (...)
Frente ao mar meu corpo ardente e nu de marinheiro pelo sangue. Fervem-me nas veias um milhão de ondas em repouso. Em meus olhos cativos e saudosos — imagem da minha solidão imensa — (...)
Azul-cobalto, almagre, amarelo ocre, aqui e ali um verde escurecido dão vida às casas algarvias através das suas platibandas. Platibandas que são parapeitos baixos a conter as açoteias (...)
O corridinho, que também se baila em algumas terras do Ribatejo e do Alentejo, é sem dúvida a dança mais tradicional do Algarve. Os pares juntos numa roda dançam ao ritmo da música e (...)
Aguardente de Medronho é tradição secular em Monchique A aguardente de medronho faz parte da identidade cultural e gastronómica da vila de Monchique e representa uma tradição secular (...)
Não tenho lágrimas estou mais baixo junto à cal Vejo o solo extinto Não oiço ninguém e não regresso Adormecer talvez junto a uma estaca com uma pequena pedra sobre as pálpebras An (...)
Não sei se te conheci em Setembro! A memória já me trai, mas gostava que tivesse sido… Setembro, o meu mês preferido, lânguido, sereno, quando a folha cai e o ocaso da vida vai vencendo. Sete (...)
Na mesma fusão de sentimentos fita no alvo firme à minha frente vou deixando pelo caminho lentamente a alegria do meu coração menino. Será o outono o culpado? Dizem que no cair da folha (...)
Estendo-te as mãos E colho o canto dos pássaros E dos rios. Estendo-te as mãos E sorvo o gosto do orvalho E das neblinas. Estendo-te as mãos E o que acontece em mim? Sensuais desvarios (...)
Onde encontrar-te ó mítica. Mística ilha do redondo azul a sempre, sempre mais além a sempre mais ao Sul de tudo, na deriva entre o algures e o nenhures. Ilha. Não o espaço físico. Materialmente determinável. Circunscrito e assinalável.
A Costa Vicentina localiza-se no litoral sudoeste da costa alentejana e barlavento algarvio em redor do Cabo de São Vicente. A Costa Vicentina e Parque Natural do Sudoeste Alentejano é o (...)