Entrego-me à vida
Escutei as vozes do silêncio
E deixei que as minhas quimeras
Desabrochassem tontas para a madrugada.
Tardei este anoitecer
Deixei que a minha alma aflita
Encostasse a sua face a esta noite morna
E pronunciasse palavras mansas.
Como é que eu posso escrever que não te amo
Se os meus dedos te possuem em sonhos
E por ti entornam poesia a toda a hora?
Rasga-me estes sonhos incertos
Que tropeçam constantemente na minha vida
Retalha-me estas agonias e lamentos
Que me passam pelos olhos
Alivia-me esta dor, amor! …
Esta dor muda, este tecer de murmúrios
E ansiedades amargas e doces
Esta sede invisível e estranha que me consome…
Esta paixão louca sem princípio nem fim
Que sem nada pedir, sem nada impor se colou a mim…
Telma Estêvão
(Silves)
Fotografia de Pedro Cabeçadas
(Faro)