Na treva
Era preciso um astro enorme, a cintilar:
Escrevi o teu nome e nasceu um clarão:
Falei da tua alma e já tenho luar.
João Lúcio, no livro "Descendo"
(Olhão, 4 de julho de 1880 - 26 de outubro de 1918)
Fotografia de Diamantino Inácio
(Faro)
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Flor que não dura
Mais do que a sombra dum momento
Tua frescura
Persiste no meu pensamento. ..
Fernando Pessoa
Mosaico fotográfico feito com fotografias de Pedro Cabeçadas
Meu coração fartou-se, e não consigo
Livrá-lo do afã em que se cansa,
De procurar o sol duma lembrança
Que, alegremente, venha ter comigo.
Ah! Não estoires, coração, descansa...
Das negras horas que nos são castigo
Sofre o amargor. Mas guarda bem contigo
Sempre um ridente alvorecer de esperança...
.
Em qualquer vida o bem, bem pouco dura?
Mal que nos ri de perto uma ventura,
Logo o destino, impiedoso, a trunca?
.
Que importa, coração, se ainda temos
Estas horas de sonho que vivemos
À espera de outras que não chegam nunca?...
.
João Braz, em "Esta Riqueza Que o Senhor Me Deu..."
(S. Brás de Alportel-13 de março de 1912 \ Portimão - 22 de junho de 1993)
Fotografia do poeta João Braz editada pela página RUMO AO SUL
Há tanta ideia perdida
Deixássemos nós fluir, da ponta dos dedos, os gestos, as carícias dedilhando a demora de uma ausência maior... e tudo à nossa volta desabrochava como um terreno baldio, ao Sul.
Deixássemos nós fluir, na gaiatez de um sorriso, na cumplicidade das horas que já não são dia e ainda não são noite... e seríamos um e apenas um; eu mar como se fosse céu e tu céu como se fosses mar e seríamos, meu amor, a imensidão do azul.
Manuel Neto Dos Santos, do livro "Aurora Boreal ao Sul" - com lançamento marcado, em S. Bartolomeu de Messines, para o dia 19 de dezembro de 2015.
Fotografia de Euridice Cristo
A sombra da noite varreu a cidade
Houve navios no mar da nossa infância:
Eram barcos de cartão
Sem qualquer importância.
E, no entanto, à distância,
Olha como eles são:
Paquetes a cortar a imensidão.
Não me digas palavras que recordem
Os largos oceanos
Ficaram para trás, são a desordem
De um passado de enganos.
Tanta coisa perdida! Tanta que ficou
Naufragada nos barcos de cartão!
Mas as praias donde sou
São mesmas de então.
Torquato da Luz, em "Destino do Mar"
(Alcantarilha, Silves, 1943 - Lisboa, 2013)
Fotografia - Praia Dona Ana ao fundo - Lagos por Filipe Da Palma
Este é o reino que buscamos nas praias de mar verde, no azul suspenso da noite, na pureza da cal, numa pequena pedra polida,
no perfume do orégão. Semelhante ao corpo de Orfeu dilacerado pelas fúrias este reino está dividido. Nós procuramos
reuni-lo, procuramos a sua unidade, vamos de coisa em coisa.
Sophia de Mello Breyner Andresen, em " Arte Poética I"
Fotografia - Praia da Estaquinha, Lagoa, Algarve por Nuno Trindade Photography
Costa algarvia... Fogo e sangue-argila
Cai, sobre o Algarve, este luar de prata; um corcel andaluz, filho de Agar… e eu deixo, por instantes, o lugar eu sou, todo eu, a luz nefelibata. Disponho, pelo céu, brilho e folguedos num drapejado a relembrara a seda… e a noite vai chegando, pela vereda; e nasce-me um poema, pelos dedos.
Manuel Neto dos Santos, em " Dias de Fazer" (a publicar)
(Alcantarilha)
Fotografia de Pedro Cabeçaas
(Faro)
Fazendo parte da arquitetura tradicional algarvia as chaminés decoradas e as platibandas coloridas têm fortes influencias árabes.
Refletem a historia de uma região soalheira onde os perfis se recortam no azul profundo do céu.
A Chaminé, é sem dúvida o maior símbolo do Algarve. Cilíndricas ou prismáticas, simples ou elaboradas, as chaminés algarvias fruto da influência de cinco séculos de ocupação árabe, mais do que pura utilidade têm um enorme valor ornamental.
Mosaico fotográfico criado com fotografias de Filipe da Palma
Fotografia de Bernardo de Passos editada pela página RUMO AO SUL
«A caridade é amor»