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RUMO AO SUL

RUMO AO SUL

Chuva Adiada

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Se a chuva viesse e lavasse
As tristezas da alma,
E as mágoas que lá encontrasse
fossem só da saudade que acalma,
e as gotas tão brancas tão leves
deslizassem livres, assim delicadas
no corpo despido, esperando breves
chuvas adiadas!

Alcina Viegas
(Tavira)

Fotografia de Faro por Pedro Cabeçadas

 

Casa Branca

 

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Casa branca em frente ao mar enorme,
Com o teu jardim de areia e flores marinhas
E o teu silêncio intacto em que dorme
O milagre das coisas que eram minhas.

A ti eu voltarei após o incerto
Calor de tantos gestos recebidos
Passados os tumultos e o deserto
Beijados os fantasmas, percorridos
Os murmúrios da terra indefinida.

Em ti renascerei num mundo meu
E a redenção virá nas tuas linhas
Onde nenhuma coisa se perdeu
Do milagre das coisas que eram minhas.

Sophia de Mello Breyner Andresen, em Poesia, 1944

Arte - Caetano Ramalho

 

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Quero tanto voltar ao sul…
Mas o corpo não me deixa,
A tristeza tolhe-me a saudade,
É mais forte que a minha vontade…
Neste abrigo onde me enfado,
Cada dia é uma queixa,
E falta-me o meu azul…
Todos os dias te sonho
Em cada dia me ausento
Do sonho que me proponho…
Dispo a minha alma, confesso,
Luz no olhar,
Meu sul, como te desejo,
E logo quero voltar!

Alcina Viegas
(Tavira)

Arte - Carlos José Fonseca Martins, pintor, gravador, escultor, ceramista. Nasceu em Tavira em 1949

 

Setembro

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Gosto do mês de Setembro
quando o tempo se suspende e paira na melancólica contemplação da natureza
e nela tudo, tudo se aquieta e alinha na ordem mais natural e perfeita das coisas.

Gosto do mês de Setembro
com a sua brandura de amadurecer os figos
o aroma a frutos secos do almanxar perdido da memória
e o sabor fresco e cristalino da água da cisterna.

Gosto do mês de Setembro
do algodão doce matinal servido em forma de neblina.
dos fins de tarde com a festa do fogo no desafogo linear do horizonte.

Gosto do mês de Setembro
das gaivotas pousadas no areal na pura adivinhação do próximo voo
e da serenidade manifestada pelos deuses na oferenda do instante.

Gosto do mês de Setembro
no relaxamento do corpo espreguiçando-se dolente e sem pressa,
num desmaio, leve, subtil, lento e progressivo da carne e do espírito.

Gosto do mês de Setembro
desde que me lembro
como se fosse o primeiro, sendo o nono,
um rio tranquilo que se me atravessa entre o verão e o outono.

Miguel Afonso Andersen (inédito)

(Estômbar)