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RUMO AO SUL

RUMO AO SUL

A chaminé algarvia

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A chaminé algarvia
tem um condão especial...
É fruto da fantasia,
deste povo sem igual,
de poetas, de sonhadores,
serranos e pescadores,
que viraram para os céus,
a pedir graças a DEUS
o fumo dos seus lares...
... a pedir ...protecção,
para que, na casa,
pobre e rústica,
jamais faltasse o pão...
.
- A chaminé algarvia, rendilhada, bordada, fala de antepassados, que foram escultores de almas, ansiosos de ventura, de noites serenas, calmas, sem ódios nem amarguras..
..
Chaminés algarvias,
monumentos alvos de amor!
Sonho e fantasia,
da nobre gente algarvia,
deste Algarve todo cor...
.
E, sobre a telha escorregadia
Fica a chaminé algarvia
Como marca do destino
Deste povo beduíno...

Nidia Horta, em CADERNOS DE POESIA DE LAGOS (Nª29)

Composição fotográfica com Chaminés Algarvias criada por Filipe da Palma

Odeceixe.

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A fronteira entre o Algarve e o Alentejo encontra-se a praia de Odeceixe.
Esta é uma das mais espetaculares praias do nosso litoral.
Uma praia grande e bonita com uma grande ribeira a contorna-la, a Ribeira de Seixe.
Não é por acaso que foi considerada uma das 7 maravilhas de Portugal.


Fotografia da praia de Odeceixe por Isaura Almeida

PERCEBES \ PERCEVES

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Os perceves são abundantes na Costa Vicentina.
Colhidos no mar e nas rochas nem sempre são fáceis de alcançar, devido aos locais de difícil acesso onde se encontram. Os marisqueiros descem as falésias para os apanhar, o que é extremamente perigoso.
É considerado como um dos mariscos mais seguros, em termos de qualidade e conservação.

Festival em Vila do Bispo dá a provar «dos melhores perceves do mundo»

Organizada pela Associação de Marisqueiros de Vila do Bispo e Costa Vicentina, com o apoio da Câmara Municipal, esta iniciativa tem como objetivo promover uma das maiores iguarias gastronómicas do município.

 

 
 
 
 

Atira'tó mar

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Atira'tó mar e diz que t'empurrarem.
Beija-me da boca e chama-me Tarzan

Mo', qué que fazes aqui?
Ma' p'qué que tu me deixaste da mão?
Já tou fart' de pensar em ti.
Tens uma mania qu' até dá dó.

Atira'tó mar e diz que t'empurrarem.
Beija-me da boca e chama-me Tarzan

Mo', tá o mar feito um cão.
Na choc' nem barbigão.
E ê nem sou mau pescador
Mai tu só queres é um dador.

Atira'tó mar e diz que t'empurrarem.
Beija-me da boca e chama-me Tarzan

IRIS

Sulino

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Esse teu segredo
Não quero mais nada;
Que a nudez rasgada
Se mostra sem medo,
Na terra deitada.
Aberta, despida,
Esperando a semente
Lançada, e esquecida,
Que é parte da gente.
O abrolho, o vagido
Do verde que espreita
No rego estendido…
De safra e colheita.

 

Manuel Neto dos Santos, do livro "Sulino"
(Alcantarilha)

Fotografia - Ameixial (Walking Festival Ameixial)

Sou algarvia e vivo à beira-mar.

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Aqui neste Algarve cheio de sol e luz marquei um dia o meu destino numa terra de humildes e heroicos pescadores – a Fuseta.
Aldeia piscatória onde decorreu a minha infância, que conheceu as agruras do mar salgado e sentiu a melodia das ondas nas suas batidas ora amenas, ora agrestes.
Orfa de pai aos quatro anos de idade, foi o meu avô, um humilde pescador, que me ensinou que o mar também tinha poesia, tão profunda como os oceanos, tão melódica como o canto das sereias…
O mar canta p’ra mim a toda a hora, ora batendo a fúria da invernia, ora batendo num acalmia moderadora – os beijos das ondas…
Aqui… da minha açoteia, eu sinto palpitar o meu mar dentro de mim, quando avisto uma gaivota mensageira, um veleiro distante… perdido no horizonte!
O mar vive em mim e me rodeia; sinto a brisa, o marulhar das ondas, o canto das musas, o despertar para a vida, ouvindo o mar, o mar levantino que me acorda todas as manhãs, que me insufla a alma de luz e poesia!
Nem uma onda na sua rebeldia, naquele mar em constante movimento que vai e vem… que vai e volta a beijar sofregamente a areia branca e dourada… deixando cristais em ondas rendilhadas de espuma.
Na crista das ondas me enlaço como frágil batel que avança…
É que este mar que eu senti desde criança, brinca comigo e eu brinco com ele…
No despertar do meus sonhos é sempre o mar que avança dentro do meu ser e lá no fundo extraio as conchas douradas em que escrevi um nome: AMOR! Abro a minha janela ao mar, as portas da minha alma e ao longe cada veleiro de asas brancas devolve-me anseios de chegada e a Poesia grita do outro lado do mar e escreve a mensagem da SAUDADE.

Maria José Fraqueza
(Fuzeta - Faro)

Fotografia da Fuzeta por Isaura Almeida

Jacarandás

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Pintaram minha rua de lilás,
Em pinceladas fortes, curvilíneas,
Para ofuscar as pétalas sanguíneas
Dos loendros e hibiscos, lá atrás.

São os jacarandás, bocas floríneas.
Em cada ano, Maio sempre traz
Campainhas de perfume pertinaz,
Trepando pelas ramas longuilíneas.

Juntos vivemos sempre e tão diversos
Foram nossos destinos! Florais versos,
Que pintam minha rua de beldade;

Andámos lado a lado desde a infância
E nunca agradeci vossa constância,
Mas vou cantar agora essa amizade.

Tito Olívio
(Faro)

Fotografias de Olhão por João Valentim

Soneto

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Tão triste eu ando já, e descontente,
Que meus olhos de todo se fecharam
A visão radiosa que sonharam...
- Um lar, um ninho, e um amor ardente...

Gastei a Mocidade loucamente,
E a alma, ou a perdi, ou m'alevaram,
Enquanto a delirar juntos andaram
Cantando amores, coração e mente...

E andando assim da Fé tão apartado,
E tão sozinho nesta solidão
De quem descrente vive do que amou.

Sou qual um tú'mlo vazio e abandonado,

só encerrando a mesma escuridão...
Sepulcro de mim próprio, eis o que sou.

---
Bernardo de Passos
Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.

Nota pessoal:
Poderia dizer que este autor, após a joeira do tempo, com João lúcio, ambos da transição dos século 19 para o 20 e ambos apoiantes da Republica e, depois com Emiliano da Costa e Cândido Guerreiro, formam um grupo de sotaventinos que, até meados do séc.20, se vão formar na Universidade e regressam, desempenhando profissõe liberais e/ouu no aparelho de Estado. Publicam sobretudo em jornais ou editoras regionais.
Já os escritores barlaventinos da época, Teixeira-Gomes, Dantas ou João de Deus, deixam-se seduzir pela política e só João de Deus é que regressa à terra para aí morrer. A sua dimensão é nacional.
A geração seguinte continuando a joeirar, , a de 61, de Júdice a oeste e Ramos Rosa, Gastão e Casimiro, a leste, vai para a capital para trabalhar e atingir alguma notoriedade.
Diria ainda que estas atitudes pessoais de saída )e regresso) de jovens são paralelas de movimentos e migrções de outros indívíduos nas mesmas condições sociais.
Diria ainda que essa situação de paralelismo se mantem actualment, mas falta agora a joeira do tempo.

Através de Raul Alvito

Mãe

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Conheço a tua força, mãe, e a tua fragilidade.
Uma e outra têm a tua coragem, o teu alento vital.
Estou contigo mãe, no teu sonho permanente na tua esperança incerta
Estou contigo na tua simplicidade e nos teus gestos generosos.
Vejo-te menina e noiva, vejo-te mãe mulher de trabalho
Sempre frágil e forte. Quantos problemas enfrentaste,
Quantas aflições! Sempre uma força te erguia vertical,
sempre o alento da tua fé, o prodigioso alento
a que se chama Deus. Que existe porque tu o amas,
tu o desejas. Deus alimenta-te e inunda a tua fragilidade.
E assim estás no meio do amor como o centro da rosa.
Essa ânsia de amor de toda a tua vida é uma onda incandescente.
Com o teu amor humano e divino
quero fundir o diamante do fogo universal.

António Ramos Rosa, em "Antologia Poética"
(Faro, 17 de outubro de 1924 – Lisboa, 23 de setembro de 2013)

Arte - Clara Andrade
(Portimão)