Corridinho
Tinha por regra correr, como doido, atrás da vida e na pressa desmedida erguia-se o meu viver. Corria atrás de mim mesmo como de fera evadida; que galope era essa vida, pelas fazendas, pelo sesmo. Que baile de roda o meu, que corridinho mandão; mandador castiço, o céu. Música, nas pedras do chão. Rodopiavam-me os pés eu às voltas, desmandado sentindo, de lés- a- lés, no meu corpo o mar espumado. Tinha, por par, a esperança, com olhos negros de amora e a tez mora que agora é só esperança de somenos. Bêbados, de tanta dança, despenteada a aurora faz, dessa esperança de amora, os madrigais mais serenos. Tombado por terra, arfando, rasguei a boca, sorri quando, a meu lado, então vi a poesia…descansando.
Manuel Neto dos Santos. OXALÁ, LUZ AZUL, inéditos