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RUMO AO SUL

RUMO AO SUL

Ilha

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Onde encontrar-te
ó mítica. Mística ilha do redondo azul
a sempre, sempre mais além
a sempre mais ao Sul
de tudo, na deriva entre o algures
e o nenhures.

Ilha. Não o espaço físico.
Materialmente determinável. Circunscrito e assinalável.
Círculo vermelho no mapa de todas a viagens por fazer.
Xiz de giz na ardósia poeirenta da vida por viver.

Sim Ilha. Mas uma outra coisa.
Talvez um sentimento. Um estado de graça
ou de exaltação. Sedimento. Sublimação.
A côncava forma de um afago.
Um remanso. Talvez abrigo, talvez útero. Outro.

Ilha.
Enseada metafísica onde ancorar a nau
e pousar o seu desiludido cavername.
Praia branca e leve
onde apaziguar o espírito primitivo da caça
e da demanda.
Palmeiral aconchegado e curvo
onde meditar e descobrir a significação da vida.

Ilha. Esta.
Minha porção terna rodeada de mágoa.
Minha açoteia de alvura.
Meu voo acabrunhado. Minha loucura.

Ilha. Viagem
em verso, inversa e íntima. Circuito
e roteiro de mim.

Minha miragem,
sem fim.

Miguel Afonso Andersen
(Portimão)
 
 

Dias de então

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Há muito partiram os dias de então,
Com a tabuada cantada ao serão!
Quase nada resta a não ser o verão,
Das tardes brincando jogando ao pião…

Alfarroba torrada, azeite no pão,
Broa amassada, chouriço de porco,
Castanhas cozidas, couve coração
Eram os petiscos, sabiam a pouco

E na noite, na soleira da porta
fazia fresquinho, vinha da horta,
contavam-se contos de fazer medo.

Era um silêncio dentro da casa
Geladas as mãos, coração em brasa,
Rezavam Pai Nosso, mas em segredo.

Alcina Viegas
(Tavira)
Fotografia (Algarve antigo) por Artur Pastor

Costa Vicentina

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A Costa Vicentina localiza-se no litoral sudoeste da costa alentejana e barlavento algarvio em redor do Cabo de São Vicente.
A Costa Vicentina e Parque Natural do Sudoeste Alentejano é o expoente máximo da beleza selvagem das praias do Alentejo contidas entre falésias escarpadas ou estendendo-se em compridos areais convidando a longos passeios.
Estendendo-se ao longo de mais de 100 kms de costa, desde Porto Covo no Alentejo, até ao Burgau no Algarve, o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina é o troço de litoral europeu melhor conservado, com várias espécies de fauna e flora únicas, sendo por isso visitado por muitos zoólogos e botânicos, oriundos de todas as partes do mundo.

Entre as muitas espécies de aves, como as raras águias pesqueiras, destacam-se as cegonhas-brancas, por ser aqui o único local do mundo em que estas aves nidificam nos rochedos marítimos.

As praias, muito procuradas pelos surfistas, são das melhores do país.
Porto Covo, Malhão, Vila Nova de Milfontes, Zambujeira do Mar, Almograve, Monte Clérigo, Arrifana, Praia do Amado, Castelejo, Vale dos Homens, Praia da Bordeira ou Carrapateira e a praia da Ilha do Pessegueiro são algumas praias a destacar.
No extremo sudoeste do Parque, encontra-se o Farol, no Cabo de São Vicente que dá nome a esta parte da costa e a Ponta de Sagres, onde existiu a famosa Escola Náutica fundada pelo Infante D. Henrique no séc XV.

 

Fotografia de Sagres - Vila do Bispo por Filipe Santos Photography/Fotografia

A arte a nossos pés!

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A «Calçada Portuguesa» da Rua de Santo António, em Faro, foi construída em 1970 tornando pedonal aquela artéria . Foi projetada por Ramiro Fernandes e implementada por uma equipa dirigida pelo mestre Américo.

Viver em verso

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É verdade, Antónia: de tudo faço versos:
é só parar, respirar fundo
as humildes coisas em redor
e deixar que eles me poisem nos ombros.
Desde que gostosamente me recolhi
no claustro dos meus dias
sou como as minhas plantas:
preciso de estar sozinha no meu vaso.
Que as abelhas se encarreguem de as polinizar
e a mim de me fazer
viver em verso.

Teresa Rita Lopes
(Faro)

Fotografia de Filipe da Palma_ platibanda / Algarve

Laranja do Algarve

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Para descrever a laranja algarvia bastam duas palavras: SUMARENTA e DOCE.
As nossas laranjas estão distinguidas pela União Europeia (UE) desde 21 de junho de 1996 com a indicação Geográfica Protegida, certificação que atesta as características excecionais dos citrinos algarvios.
Aceitam um sumo de laranja?

Ululou no pincel extranho de Rembrant

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Ululou no pincel extranho de Rembrant,
O trágico da tinta, Eschylo da pintura;
Foi triste e dolorosa em Cano e Zurbaran
E em Rubens tomou idilica frescura.

Com Velasques criou rajadas de epopeia
E em Raphael foi d'uma doce grandeza;
Miguel Angelo pôs a Côr d'assombros cheia
Por forma que excedeu até a Natureza.

Murillo fe-la erguer, celeste e amoravel,
Ao lirismo ideal da mística doçura,
Mergulhava o pincel fino e admirável
Dentro do coração, p'ra embebe-lo em ternura.

Oh Cor, que vais correr pelas veias das flores,
Voluptuosa cor que adora o algarvio,
Que fostes muita vez, em ardentes amores,
O colo desnudar nos braços de meu tio.

E porquê? Que razão nos acorrentará
Ao teu manto brilhante, ao teu manto fulgente?!
A volúpia, talvez, que dentro de ti há,
Minha linda paga, sensual e ardente!

.
João Lúcio, em "O Meu Algarve"
(Olhão, 4 de julho de 1880 - 26 de outubro de 1918)

Fotografia - Algarve por Filipe Da Palma

Descrição do mar

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Árido corpo nas pedras deitado na magra
substância da terra deitado lavrado —
um corpo longo uma pura construção
de formas absolutas — movimento
circular
sempre recomeçado: mar ou mármore
renascido em ruínas em labirintos ó berço ó
sepultura de todos os viventes ó mais natural
das substâncias este barro
por onde caminho nos astros
deitado: onde a película mais leve
cava o fosso a ressaca o conflito — ó árvores
sem raízes ó balança definitiva
fala-me dos teus frutos

Casimiro de Brito, “NEGAÇÃO DA MORTE”, LIVRO DE 1974
(Loulé)

Fotografia, Senhora Da Rocha, por Jorge Florêncio