Como o rio...
Do cais… trepo por ti
Na languidez do beijo.
Preia-mar de insónia
E do desejo;
Bocas de sal e de cristais.
Manuel Neto Dos Santos, no livro SULINO
Fotografia - Faro por Martyna Mazurek fotografia
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Se é clara a luz desta vermelha margem
Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.
Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!
Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'
Fotografia de Diamantino Inácio
Peço a paz
Estou de partida
E eu, aventureira,
Que desejo tanto esta evasão
De repente…
Paro e sou, somente,
Dúvida, medo, hesitação.
A terra inteira
Se estende à minha frente !
Sonhei partir,
Em louca cavalgada,
Com destino marcado no Oriente,
Peregrina fiel numa cruzada.
Sonhei partir um dia,
Erguer bandeiras,
Esvoaçar estandartes
E, no meio de hinos de alegria,
Sulcar os mares em caravelas,
Tendo-te à minha espera, em cada porto,
Com um braçado de estrelas.
Sonhei… sonhei…
Tanto sonho morto !
Fui monja, poeta,
Fui rainha,
Qualquer coisa, enfim…
Só nunca fui
Eu, sozinha,
Dentro de mim !
Ofélia Bomba, em "Poemas do rato morto", 1993
(Boliqueime, Loulé)
Fotografia - Praia da Marinha, em Lagoa por Vitor Pina - Photography