A paixão da cor
Cor, filha da Luz, é uma língua em tons
Que fala, sem rumor, à curva da retina...
Como há para o ouvido a palavra e os sons,
Nasceu para o olhar esta harmonia fina.
Escorre sobre o campo, empapuçando tudo
N'um brilho rumoroso, ardente de alegrias;
Palpita nos cetins, ondula no veludo
E fulge encarcerada em finas pedrarias.
Em toda a parte põe a asa transparente:
No mar, nos vegetais, nos montes, nos pallores...
No nosso sangue a Cor murmura intensamente,
Sugam-na p'los jardins as sequiosas flores.
Faz o cenário rubro e amplo da alvorada,
Espalha pelo Ar um pó alado e loiro,
Torna a agua do mar suave e azulada
E talha, no poente, arquiteturas de oiro.
Sonoramente vibra, em rubro, sobre os cactos:
Tem um ar de saudade, em roxo, nas violetas:
É meiga no azul dos lagos e regatos,
As azas de cetim salpica ás borboletas.
.
João Lúcio
(Olhão, 4 de julho de 1880 - 26 de outubro de 1918)
Que fala, sem rumor, à curva da retina...
Como há para o ouvido a palavra e os sons,
Nasceu para o olhar esta harmonia fina.
Escorre sobre o campo, empapuçando tudo
N'um brilho rumoroso, ardente de alegrias;
Palpita nos cetins, ondula no veludo
E fulge encarcerada em finas pedrarias.
Em toda a parte põe a asa transparente:
No mar, nos vegetais, nos montes, nos pallores...
No nosso sangue a Cor murmura intensamente,
Sugam-na p'los jardins as sequiosas flores.
Faz o cenário rubro e amplo da alvorada,
Espalha pelo Ar um pó alado e loiro,
Torna a agua do mar suave e azulada
E talha, no poente, arquiteturas de oiro.
Sonoramente vibra, em rubro, sobre os cactos:
Tem um ar de saudade, em roxo, nas violetas:
É meiga no azul dos lagos e regatos,
As azas de cetim salpica ás borboletas.
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João Lúcio
(Olhão, 4 de julho de 1880 - 26 de outubro de 1918)