A Paz
Se eu te pedisse a paz, o que me darias
pequeno inseto da memória
de quem sou ninho e alimento?
.
Se eu te pedisse a paz, a pedra do silêncio
cobrindo–me de pó, a voz limpa dos frutos,
o que me darias respiração pausada de outro corpo
sob o meu corpo?
.
Perdoa–me ser tão só, e falar–te ainda
do meu exílio. Perdoa–me se não te peço
a paz. Apenas pergunto: o que me darias
em troca se ta pedisse? O sol? A sabedoria?
Um cavalo de olhos verdes? Um campo de batalha
para nele gravar o teu nome junto ao meu?
.
Ou apenas uma faca de fogo, intranquila,
no centro do coração?
.
Nada te peço, nada. Visito, simplesmente,
o teu corpo de cinza. Falo de mim, entrego–te
o meu destino. E a morte vivo só de perguntar–te:
o que me darias
se te pedisse a paz
e soubesses de como a quero construída
com as matérias vivas
da liberdade?
.
Casimiro de Brito
(Loulé - Algarve, 14 de janeiro de 1938)
Fotografia - Algarve década de 50 por Artur Pastor