A Ponte
Minha vida é uma ponte
Sobre o rio da Eternidade;
Por ela vim caminhando,
Tendo a esp´rança por defronte,
E por detrás a saudade.
Mas vai-se a esp´rança afastando
A cada passo que dou:
Fica a saudade chorando;
Só a dor, de quando em quando,
Vem ter comigo onde estou...
Olho o caminho deserto,
E tenho pena de mim.
Não sei se já estou perto
Ou se estou longe do fim...
Sei que me sinto cansado,
E só descanso procuro,
Sem saudades d passado
Nem esp´ranças no futuro.
Maldita ponte sombria
Que sem vontade atravesso!
-Para o fim, sem alegria,
Sem ventura no começo!
Quem me dera que soprasse
Agora, um vento bravio,
que, inteirinha, te arrastasse
comigo, e nos sepultasse
Bem lá no fundo do rio!
João Braz
(S. Brás de Alportel-13 de março de 1912 \ Portimão - 22 de junho de 1993)
Fotografia - ponte romana de Tavira por Leos Photos