As gaivotas da manhã acordaram-me.
As gaivotas da manhã acordaram-me. O canto
é delas ou foi recolhido
nas águas? Um raio de sol
atravessa o quarto e trepa hesitante
pela cama; deita-se connosco
como se fosse um gato. Estendo a árvore
flexível do corpo
e penso como é bom esquecer-me da idade
e dos outros e do mundo
que felizmente se esquece muitas vezes
de mim. Não sei de que lado estou se
me deitei
à direita ou à esquerda
da minha amiga. Agrada-me
o rumor dela
quando se aconchega ao meu corpo
sem ter ouvido ainda o piar das gaivotas
nem as patas perfumadas do sol
a nosso lado.
Casimiro de Brito
(Loulé - Algarve, 14 de janeiro de 1938)
Fotografia de Pedro Cabeçadas
(Faro)