As uvas
Tu lembras as uvas, em cachos, maduras,
pendendo no muro pintado de antigo?
Passaram-se os anos, mas sinto um abrigo
na boca onde tive tamanhas doçuras.
O outono bordava, com tons e venturas,
o nosso refúgio sem porta ou postigo.
Abria-se o tempo se estava contigo
e o sol espreitava por entre molduras.
Chegaram os ventos, trouxeram granizo,
o muro tombou sem folhagem de aviso
e as silvas cobriram as vides, depois.
O inverno da vida tem dores e graças,
mostrando que as uvas são doces, em passas
e deixam sabor a saudade, nos dois.
Glória Marreiros
(Portimão)