Aurora Boreal ao Sul - sala às escuras
Ando por dentro de mim como se andasse dentro de uma sala às escuras. A amplitude nocturna das coisas relembram- me cidades desertas e praias sem peugadas sob o toldo estrelado da abóbada celeste... ando por dentro de mim com um ar de espanto, como o luar a encher o jardim, como se todo ele fosse feito de afecto. Ando por dentro de mim, como se os nomes reais fossem canções à espera de uma voz ou uma vida afogada na poesia, para que seja insólito e distinto e meu semblante e um sortilégio de luz os salões sem mobílias. Ando por dentro de mim como se fossem breves as manhãs e tudo quisesse ser, em demasia. Rasgo janelas nas muralhas e o frio irrompe como um abraço ou uma entoação em busca de um suspiro. Ando por dentro de mim, como pelas franjas das arribas ou as lambidelas de incêndios... com o único propósito de, num milagre avulso, me reencontrar; em pleno dia
Manuel Neto Dos Santos, no livro "Aurora Boreal ao Sul"
Manuel Neto Dos Santos, no livro "Aurora Boreal ao Sul"