Balanço
Poemas, versos, papéis,
escritos com vário humor,
afinal nada valeis,
falta-vos sumo, sabor,
embora cheirando a vida,
embora cheirando a dor.
Por que é que vos fiz e faço,
e vos guardo e estremeço,
se sois sinais de um fracasso,
se não passais de um esboço
do que quis ser, mas não posso?
Poemas, versos, papéis,
escritos para mim mesmo,
porque só para mim mesmo
alguma coisa valeis.
Pedaços esfarrapados
de sonhos inconfessados
de uma ambição que não chega
a ter forma de ambição.
Versos perdidos, dispersos,
só de mim, p'ra mim valeis.
Só para mim vós sois versos;
por isso, não vos mostreis,
que para os mais sois papéis.
Joaquim Magalhães em “Pretérito Imperfeito”
(Porto a 3 de maio de 1909\Faro, 16 de outubro de 1999)