Cruzo a memória do tempo...
Cruzo a memória
do tempo
e busco desabrido
o meu primeiro som.
O primordial e vago vagido
a primeira nota, um semitom.
Perene, mas vil, o tempo nada deixa
do passado passar por sua ténue fresta
e há em mim uma alma exasperada que se queixa
do que foi, do que é, do que lhe resta.
Nem memória, sedimento ou outro sinal
desse som, desse meio tom, desse vagido
tudo o que eu fui não passa afinal
dum remoto, fraco e impercetível ruído.
Miguel Afonso Andersen, do livro "O início das águas" (polifonia atónica)
do tempo
e busco desabrido
o meu primeiro som.
O primordial e vago vagido
a primeira nota, um semitom.
Perene, mas vil, o tempo nada deixa
do passado passar por sua ténue fresta
e há em mim uma alma exasperada que se queixa
do que foi, do que é, do que lhe resta.
Nem memória, sedimento ou outro sinal
desse som, desse meio tom, desse vagido
tudo o que eu fui não passa afinal
dum remoto, fraco e impercetível ruído.
Miguel Afonso Andersen, do livro "O início das águas" (polifonia atónica)