Dar ou receber amor
Não consigo viver
sem dar ou receber
sem dar ou receber
amor
Só vivo bem com afeto,
de peito aberto, coração repleto,
só assim sou eu, inteiro e completo.
Por isso, entendo e sou solidário
com este meu coração
e já pouco me importa
quando ele se zanga, grita, revolta,
insulta, sai e bate com a porta,
eu sei que depois ele volta,
foi apenas passear, ver e ouvir o mar.
Lentamente e só, calcorreia
a calçada longa e luzidia das águas,
uiva amargamente à lua cheia
como um coiote vestido de mágoas.
Chega depois, lento, tardio e triste,
de perfume estranho ungido
aroma, essência que só existe
na raiva dum coração desabrido.
Sem acender a luz
senta-se ao velho piano
martelando com raiva uma sonata que traduz
de cor, o tom e o som da dor e do engano.
Miguel Afonso Andersen, em "Tríptico de Vozes" (Pássaro Suspenso)
Fotografia - Gruta da Praia do Carvoeiro . Algarve
Só vivo bem com afeto,
de peito aberto, coração repleto,
só assim sou eu, inteiro e completo.
Por isso, entendo e sou solidário
com este meu coração
e já pouco me importa
quando ele se zanga, grita, revolta,
insulta, sai e bate com a porta,
eu sei que depois ele volta,
foi apenas passear, ver e ouvir o mar.
Lentamente e só, calcorreia
a calçada longa e luzidia das águas,
uiva amargamente à lua cheia
como um coiote vestido de mágoas.
Chega depois, lento, tardio e triste,
de perfume estranho ungido
aroma, essência que só existe
na raiva dum coração desabrido.
Sem acender a luz
senta-se ao velho piano
martelando com raiva uma sonata que traduz
de cor, o tom e o som da dor e do engano.
Miguel Afonso Andersen, em "Tríptico de Vozes" (Pássaro Suspenso)
Fotografia - Gruta da Praia do Carvoeiro . Algarve