Do mar...
Do mar,
sei o ir e o voltar
em vão
do pescador e da dor.
Das redes vazias de peixe e pão.
Da sardinha
mais madrasta do que madrinha.
Sei do teu rosto trigueiro esculpido
pela aragem do sol, do sal e do não
ter,
Sei do teu olhar azul e manso
esse mar imenso no fundo dos olhos. A bonança.
A bóia, o colete de salvação, a esperança
no amainar dessa tempestade
a crescer-te na raiva surda
do ó-riba-lé de não haver.
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Miguel Afonso Andersen, do livro "Da Volúpia, os sinais" (Voz Extrema)
(Ferragudo\ Portimão)
Fotografia de Jorge Florêncio (Senhora da Rocha - Algarve)