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RUMO AO SUL

RUMO AO SUL

Em Lagos

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Virada para o mar como a outra Lagos
Muitas vezes penso em Leopoldo Sedar Senghor:
A precisa limpidez de Lagos onde a limpeza
É uma arte poética e uma forma de honestidade
Acorda em mim a nostalgia de um projecto
Racional limpo e poético

Os ditadores – é sabido – não olham para os mapas
Suas excursões desmesuradas fundam-se em confusões
O seu ditado vai deixando jovens corpos mortos pelos caminhos
Jovens corpos mortos ao longo das extensões

Na precisa claridade de Lagos é-me mais difícil
Aceitar o confuso o disforme a ocultação

Na nitidez de Lagos onde o visível
Tem o recorte simples e claro de um projeto
O meu amor da geometria e do concreto
Rejeita o balofo oco da degradação

Na luz de Lagos matinal e aberta
Na praça quadrada tão concisa e grega
Na brancura da cal tão veemente e direta
O meu país se invoca e se projeta

Lagos, 20 de abril de 1974
Sophia de Mello Breyner Andresen, no livro " O nome das coisas"

Fotografia de Lagos (retirada do Google)