Horas
Meu coração fartou-se, e não consigo
Livrá-lo do afã em que se cansa,
De procurar o sol duma lembrança
Que, alegremente, venha ter comigo.
Ah! Não estoires, coração, descansa...
Das negras horas que nos são castigo
Sofre o amargor. Mas guarda bem contigo
Sempre um ridente alvorecer de esperança...
.
Em qualquer vida o bem, bem pouco dura?
Mal que nos ri de perto uma ventura,
Logo o destino, impiedoso, a trunca?
.
Que importa, coração, se ainda temos
Estas horas de sonho que vivemos
À espera de outras que não chegam nunca?...
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João Braz, em "Esta Riqueza Que o Senhor Me Deu..."
(S. Brás de Alportel-13 de março de 1912 \ Portimão - 22 de junho de 1993)
Fotografia do poeta João Braz editada pela página RUMO AO SUL