Meus Olhos
Parti no Outono do meu desalento,
levei na bagagem o som dos meus ais
e a marca das dores, que são os sinais
que o tempo deixou na minha alma, em tormento.
Dormi, sem ninguém, a gemer ao relento,
olhando as estrelas, por entre olivais.
Comi as migalhas que comem pardais,
bebi o suor do Verão mais sedento.
Cheguei no Inverno. Encontrei tempestade.
Vi corpos caídos, num hino à saudade,
sucata de vidas por entre os escolhos.
Naquela algazarra de sonhos perdidos,
vi estrelas tombadas, sem luz nem sentidos,
e nesses destroços estavam meus olhos.
Glória Marreiros
(Monchique)
Fotografia de Pedro Cabeçadas
(Faro)