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RUMO AO SUL

RUMO AO SUL

Miséria

 

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Era já noite cerrada,
Diz o filho: "Oh minha mãe,
Debaixo d'aquela arcada
Passava-se a noite bem!"

A cega, que todo o dia
Tinha levado a andar,
A tais palavras do guia
Sentiu-se reanimar.

Mas saltam dois cães de gado,
Que eram como dois leões:
Tinha-os à porta o morgado
Para o guardar dos ladrões.

Tornam os pobres à estrada,
E aonde haviam de ir dar?
Ao palácio da tapada
Onde el-rei ia caçar.

À ceguinha meia morta
Torna o filho: "Oh minha mãe,
Ali no vão de uma porta
Passava-se a noite bem!"

- Se os cães deixarem... (diz ela,
A triste n'um riso amargo),
Com efeito a sentinela:
- "Quem vem lá?... Passe de largo!"

Então ceguinha e filhinho,
Vendo a sua esperança vã,
Deitaram-se no caminho
Até romper a manhã!...


João de Deus
(Poeta e Pedagogo - São Bartolomeu de Messines- 8 de março de 1830\ Lisboa -11 de janeiro 1896)

 

Imagem - fotografia de João de Deus editada pela página RUMO AO SUL