O Medo
O que sustenta os nossos papões é o medo
que deles temos.
Se lhes fizermos frente
acabam por nos respeitar.
Só o escravo obedece ao senhor que o ameaça
de chicote em riste:
“Se falas levas mais!”
Assim fizeram aos gregos os Senhores desta Europa
de que nos querem escravos.
Eles e os seus lacaios exibem-nos como exemplo
de que desobedecer é pior
mas só quem é burro se deixa levar:
vejam que não votaram nos que os escravizaram!
Iremos mostrar ao mundo que valemos muito menos
que os gregos? Receio bem que sim!
O Alexandre O’Neill ironizou num poema
de cotovelo apoiado num guichê
de uma repartição pública:
“Onde veio parar a madeira das naus!”
Que dirias tu, Alexandre, desta gente que somos
não só burocraticamente amorfa
mas abaixo de cão: nem ladra quando é roubada!
Os nossos avós navegadores
fazem manguitos aos Senhores que nos compraram
na feira de escravos da dita União Europeia
mas nada mais podem fazer
no seu distante Além.
Aguentámos mais de quarenta anos a União Nacional
(eu não que fugi e amarguei o exílio)
e muitos querem agora lamber a mão desta nova União!
Desgraçada gente que perdeu o brio de encarar de frente
não o Gigante Adamastor mas os pequeninos déspotas
que arrebanham e arrecadam o vil metal
ganho com o suor dos escravos!
Nunca o nosso Portugal esteve tão perto de deixar de ser
alguém ou algo com destino próprio!
Conforta-me assistir aos ímpetos
de umas Padeiras de Aljubarrota
que por essas ruas e ecrãs se batem contra a cabeça baixa
da cobarde gente em que nos tornámos!
Os espoliados não têm culpa de ser pobres
mas os cabisbaixos sim! da sua cobardia!
Antes queria ver a pobre gente que somos
esfomeada e esfarrapada mas viva! estrebuchando vida
pronta a recuperar a sua razão de existir!
Teresa Rita Lopes
(Faro, 1937)
que deles temos.
Se lhes fizermos frente
acabam por nos respeitar.
Só o escravo obedece ao senhor que o ameaça
de chicote em riste:
“Se falas levas mais!”
Assim fizeram aos gregos os Senhores desta Europa
de que nos querem escravos.
Eles e os seus lacaios exibem-nos como exemplo
de que desobedecer é pior
mas só quem é burro se deixa levar:
vejam que não votaram nos que os escravizaram!
Iremos mostrar ao mundo que valemos muito menos
que os gregos? Receio bem que sim!
O Alexandre O’Neill ironizou num poema
de cotovelo apoiado num guichê
de uma repartição pública:
“Onde veio parar a madeira das naus!”
Que dirias tu, Alexandre, desta gente que somos
não só burocraticamente amorfa
mas abaixo de cão: nem ladra quando é roubada!
Os nossos avós navegadores
fazem manguitos aos Senhores que nos compraram
na feira de escravos da dita União Europeia
mas nada mais podem fazer
no seu distante Além.
Aguentámos mais de quarenta anos a União Nacional
(eu não que fugi e amarguei o exílio)
e muitos querem agora lamber a mão desta nova União!
Desgraçada gente que perdeu o brio de encarar de frente
não o Gigante Adamastor mas os pequeninos déspotas
que arrebanham e arrecadam o vil metal
ganho com o suor dos escravos!
Nunca o nosso Portugal esteve tão perto de deixar de ser
alguém ou algo com destino próprio!
Conforta-me assistir aos ímpetos
de umas Padeiras de Aljubarrota
que por essas ruas e ecrãs se batem contra a cabeça baixa
da cobarde gente em que nos tornámos!
Os espoliados não têm culpa de ser pobres
mas os cabisbaixos sim! da sua cobardia!
Antes queria ver a pobre gente que somos
esfomeada e esfarrapada mas viva! estrebuchando vida
pronta a recuperar a sua razão de existir!
Teresa Rita Lopes
(Faro, 1937)
Fotografia de Teresa Rita Lopes editada pela página RUMO AO SUL