Porto sem ter mar
A minha serra cheira a rosmaninho
E tem o doce aroma do medronho.
Nos dias que lá vou, sempre deponho
Os olhos no lugar que foi meu ninho.
A rosa mais silvestre esconde o espinho,
Temendo ver meu rosto mais tristonho.
Aquela terra é hoje um novo sonho,
Com tojos transformados em arminho.
Guarda as minhas memórias, desacatos,
As rendas dos vestidos, os retratos
E as brincadeiras todas, numa dança.
A minha serra é porto sem ter mar,
Onde ancoro os meus anos, com pesar
De nunca mais voltar a ser criança.
Glória Marreiros
(Portimão)
Fotografia da Serra de Monchique - Algarve