Setembro
Gosto do mês de Setembro
quando o tempo se suspende e paira na melancólica contemplação da natureza
e nela tudo, tudo se aquieta e alinha na ordem mais natural e perfeita das coisas.
Gosto do mês de Setembro
com a sua brandura de amadurecer os figos
o aroma a frutos secos do almanxar perdido da memória
e o sabor fresco e cristalino da água da cisterna.
Gosto do mês de Setembro
do algodão doce matinal servido em forma de neblina.
dos fins de tarde com a festa do fogo no desafogo linear do horizonte.
Gosto do mês de Setembro
das gaivotas pousadas no areal na pura adivinhação do próximo voo
e da serenidade manifestada pelos deuses na oferenda do instante.
Gosto do mês de Setembro
no relaxamento do corpo espreguiçando-se dolente e sem pressa,
num desmaio, leve, subtil, lento e progressivo da carne e do espírito.
Gosto do mês de Setembro
desde que me lembro
como se fosse o primeiro, sendo o nono,
um rio tranquilo que se me atravessa entre o verão e o outono.
Miguel Afonso Andersen (inédito)
(Estômbar)