Esse teu segredo Não quero mais nada; Que a nudez rasgada Se mostra sem medo, Na terra deitada. Aberta, despida, Esperando a semente Lançada, e esquecida, Que é parte da gente. O abrolho, (...)
Chama-me! E eu logo acudo. O encantamento da luz, No quase-nada que é tudo; A nora sem alcatruz. O açude que é regaço, Inverno sem albornoz Da alcova negra que faço Para o descanso da voz. (...)
Noite de mármore branco esplendente (João Lúcio) Em teu sorriso; todo o universo. Descrevo o amor bissexto, tão disperso, Inscrevo a tua ausência… e fico ausente. Ausente do (...)
Estendo-te as mãos E colho o canto dos pássaros E dos rios. Estendo-te as mãos E sorvo o gosto do orvalho E das neblinas. Estendo-te as mãos E o que acontece em mim? Sensuais desvarios (...)
E se tudo isto não fosse bem assim? Se não fossem os riachos aquilo que julgamos ser; Corpos de água em movimento… E se a brancura fosse apenas a ausência de cor e o silêncio (que (...)
Ao pé dos valados musgosos, poderá não haver sol mas haverá, sempre, poesia... Ao pé dos valados musgosos, poderá não haver nem um pássaro, nem a resina dos pinheiros, mas haverá (...)
Tal como um búzio caído Meu amor À beira-mar Pus na guitarra o ouvido Tive a alma a soluçar Pelo mar Com o mar Foi tão triste essa alegria Vibrando cá bem no fundo ó Meu (...)
Onde um rumor de água é só silêncio, Tenho a surdez de mim, rasgada, inteira; Ofereço o ribombar desta maré De mil versos diversos, De canseira; morro de pé. Dezasseis luas altas (...)
Sei dos meus poemas como sobreiros em carne viva e de todas as ralações do mundo; dos impérios (des) feitos em cacos e das ideologias como manteiga no focinho do cão, guardando o monte... (...)
Ouvindo o que o mar dizia Com a surdez dos olhos meus, Fui escutando…e fiz-me deus Fiz-me ao mar…e fui POESIA. Fiz-me ao sal…e fui Império Fiz-me ao Sul…e fui a gesta. Perdi (...)
Livre! Sou livre como é livre tudo Quanto, por ter nascido, mais não é; Sou livre, nesta força de maré Com que os versos me invadem, a miúdo. Ninguém me prende, nem o Amor sequer; Sou homem livre. Que maior riqueza
Deixo habitar, em mim, toda a paisagem; Entra pela pele nervos, pelas artérias E põe nuances, vagas e etéreas Para a descoberta, a breve cabotagem. E eu sou o que contemplo, a vastidão (...)
Morre-se por aqui, na letárgica maneira de um pássaro sem interesse pelo voo... Sustentamo- nos do ar rarefeito, na raridade do sonho possível de um oceano que espera ser desvirginado (...)
Ando por dentro de mim como se andasse dentro de uma sala às escuras. A amplitude nocturna das coisas relembram- me cidades desertas e praias sem peugadas sob o toldo estrelado da abóbada (...)
Vasculho, ainda, as relíquias das folhas outonais. Como não tem chovido...ei-las hirtas, firmes enrijadas de étimas cores e rebordos de aço. Vasculho, ainda, as relíquias de dias (...)
Esse teu segredo Não quero mais nada; Que a nudez rasgada Se mostra sem medo, Na terra deitada. Aberta, despida, Esperando a semente Lançada, e esquecida, Que é parte da gente. O (...)
Tal como um búzio caído Meu amor À beira-mar Pus na guitarra o ouvido Tive a alma a soluçar Pelo mar Com o mar Foi tão triste essa alegria Vibrando cá bem no fundo ó Meu amor, como (...)
Como o rio sobe os últimos degraus Do cais… trepo por ti Na languidez do beijo. Preia-mar de insónia E do desejo; Bocas de sal e de cristais. Manuel Neto Dos Santos (...)
Vai até à sombra da paz e do conforto A fragrância das flores; Rubras papoilas (Lábios de efebos, que não de moçoilas), Frescura dos prados, Fresquidão do horto. Manuel Neto dos (...)
Um corpo aberto, como os animais: Um potro que galopa a terra e o pó, A ave que se estende para voar. O meu poema, assim, é como o mar Que, ao babar-se, pela praia mete dó… Mas (...)
Tinha por regra correr, como doido, atrás da vida e na pressa desmedida erguia-se o meu viver. Corria atrás de mim mesmo como de fera evadida; que galope era essa vida, pelas fazendas, (...)
Ó Monte Boi; retiro com o céu à minha altura. As nuvens, se quisesse, tocava com os dedos. Ninguém mora nas casas, os templos dos segredos da história de outras vidas, constante formosura. (...)
De mim podia falar-te… mas não sei Que não saber é tudo o que te ofereço, E ao dar-te já recebo o que não tinha. Mendigo, pela vida, a coisa minha; A rés do sonho, ao rés do (...)
Fala mais baixo, deixa a tarde ser O entardecer crepuscular do ocaso; Se, por acaso, a noite não vier Que possa eu oferecer meu peito raso De luz, sanguínea e triste, como Espanca (...)
Deixássemos nós fluir, da ponta dos dedos, as carícias dedilhando a demora de uma ausência maior... e tudo, à nossa volta, desabrochava como um terreno inculto, ao Sul. Deixássemos (...)
De como tudo vale a pena Não há remorso de nada, embrenhado Na cadência dos dias e das noites; Tudo flui, por si e por inteiro. Não lembro o que não tive E do que sonhei ter… (...)
À altura do horizonte, Aceita-me o conselho; Esquece-te de ti, de olhares A ponta dos teus pés. Tu és o todo que contemplas, A reverberação da luz és tu, Na luz que ri… Ou (...)
(Rosa Alice Branco) Redescobrir-lhes as formas, os contornos e os limites desenhados milimetricamente na postura do olhar atento. Visita-me depois, bem mais tarde, quando, a desoras, o (...)
Linhas do amor na página da face Dos valados derrocados, pelas fazendas. Ó canto da cigarra tresloucado, Ensurdecendo amêndoas e al- farrobas. Rosa –dos- ventos; Almeixário antigo (...)
Num amor grande como um mar sem praias, Sem os teus beijos, minha pele é sobro. Minha alma, de sal, já tem o dobro Do mar que tem, nas ondas, suas aias. Faço dos versos, rimas, as alfaias (...)
O interior da existência de um homem é o oceano mais profundo que possamos navegar; navegar, por dentro de um rumor constante, sob a mestria da lua, para que a melancolia nos surja como (...)