Esta idade, pássaro triste pousado no leito azul deste rio sempre em corrida com destino marcado, ao sul da vida, vento Suão forte navegando-nos a pele pelo norte, mas que sucumbe sem apelo (...)
Mar de dentro, a aparente tranquilidade deste tempo, desta idade, na conjugação do ser e do sentir. Mar de dentro, mar metafísico do devir nesta latente serenidade que não sendo ainda luz por (...)
O silêncio escoa lento na ampulheta cabisbaixa dos minutos, ecoa pesado na fímbria madura e vibrátil das horas, acama-se sedimentado no aluvião vencido dos dias repetidos. O silêncio (...)
O hálito do mar feito brisa e maresia lambe-me as artérias, excitando a glândula da inspiração. Daí a acentuada salinidade do verbo, o remoinho das vogais, no azul das consoantes e na (...)
Flutuar. Apenas e só flutuar. Flutuar sem outra preocupação que não essa. A de flutuar. Em puro abandono, manter o dorso à flor da espuma e do sal, paralelo ao curso irregular (...)
Há todo um mar inteiro, imenso e manso na volúpia e no balanço desse teu jeito de caminhar. Anca subida, maré cheia anca em baixo, praia-mar um subtil maneio, um enleio que (...)
Que mais somos do que pó e desejo, reflexo baço dos sonhos por cumprir? Hálito frio dos dias derrotados na luta contra o esmeril do tempo que nos gasta lentamente. Que mais somos (...)
O silêncio é agora a minha fala. Escrevo-o nas linhas rasgadas a céu aberto com um archote de palavras da chama ténue, quase ausente. De pena e aparo em riste como o dardo curvo e breve (...)
Hoje quero escrever não pelo talhe doce do recorte oblíquo da forma redonda e quase perfeita da palavra, tal como o poema me pede. mas pela irregularidade agreste da sua mais viva e (...)
A poesia é um voo de gaivota perdida, ébria de maresia. Uma vibração aquém e além pele repercutida como se fora uma epifania. Miguel Afonso Andersen, (...)
Saboreio deliciado a poesia inata do silencio em cada quase manhã que me acontece. No murmúrio mudo da ondulação em constante e esverdeado vaivém, no canto surdo das aves no (...)
Não consigo viver sem dar ou receberamor Só vivo bem com afeto, de peito aberto, coração repleto, só assim sou eu, inteiro e completo. Por isso, entendo e sou solidário com este meu (...)
Alinhavo palavras como quem, sem jeito, costura as dobras do vento. Raízes suspensas no arame deste tempo já sem tempo e sem alento. Vã espera, na esperança que das próprias trevas do caos (...)
Tango. Tango-te. Tangas-me. Os corpos alados suados na cadencia dos passos excitados enlaçados na volúpia brava do desejo limitados no curto laço dos braços e da promessa dum beijo. A (...)
No ranger de tábuas do meu veleiro no rangido seco do casco da minha cama eu confundo com prazer o ruído ondulante do mar que me chama com o rumor fervilhante do teu corpo de mulher. Miguel Afonso Andersen (...)
Onde encontrar-te ó mítica. Mística ilha do redondo azul a sempre, sempre mais além a sempre mais ao Sul de tudo, na deriva entre o algures e o nenhures. Ilha. Não o espaço físico. Materialmente determinável. Circunscrito e assinalável.
A vida é uma corda puída, desfibrada, roída como um abandono, como um cansaço ou uma desistência, com um nó que não desfaço por estar só neste enlace com a ausência. Miguel Afonso Andersen (...)
Existe um mar em cada um de nós. Um mar interior, mar de dentro. Porção de água, nível de bolha, lastro diário de bordo, sextante, gávea em alto mastro. Ancoradouro, (...)
Gosto do Inverno e do mar. Da água alterada em espuma fustigando os pontões do tempo. Da memória, da infância agreste e fria como um vento assíduo e persistente, desse (...)
Sempre as palavras só as palavras, esses corcéis de vento e espuma velozes como um açoite, moldáveis como barro duras como granito, no trote marcado na fímbria e no grito (...)