Ululou no pincel extranho de Rembrant
Ululou no pincel extranho de Rembrant,
O trágico da tinta, Eschylo da pintura;
Foi triste e dolorosa em Cano e Zurbaran
E em Rubens tomou idilica frescura.
Com Velasques criou rajadas de epopeia
E em Raphael foi d'uma doce grandeza;
Miguel Angelo pôs a Côr d'assombros cheia
Por forma que excedeu até a Natureza.
Murillo fe-la erguer, celeste e amoravel,
Ao lirismo ideal da mística doçura,
Mergulhava o pincel fino e admirável
Dentro do coração, p'ra embebe-lo em ternura.
Oh Cor, que vais correr pelas veias das flores,
Voluptuosa cor que adora o algarvio,
Que fostes muita vez, em ardentes amores,
O colo desnudar nos braços de meu tio.
E porquê? Que razão nos acorrentará
Ao teu manto brilhante, ao teu manto fulgente?!
A volúpia, talvez, que dentro de ti há,
Minha linda paga, sensual e ardente!
.
João Lúcio, em "O Meu Algarve"
(Olhão, 4 de julho de 1880 - 26 de outubro de 1918)
Fotografia - Algarve por Filipe Da Palma