Venho falar do verbo amar
Hoje sinto claramente
que cada verbo tem um tempo de conjugação.
Há um tempo de semente,
há um tempo de gestação.
Depois é tempo de raiz, caule, folha e flor.
Venho falar do verbo amar.
Do tempo do amor.
Na minha taça nunca houve desse mosto desse fel
nunca dedilhei na guitarra do meu tempo, essa melodia
e se alguma vez, entusiasmado, domei esse corcel
mais não foi, do que o sonho de um só dia.
Se desse tempo de amor, algum foi meu
ah, então decerto que fui um Romeu
com Julieta já sequestrada.
Fui decerto Pedro já sem Inês.
D. Quixote sem Dulcineia.
Talvez Ulisses navegante e conquistador
com Penélope tecendo o linho, onde a espera fez
o desenho duma sereia.
Falo-vos do verbo amar. Tempo do amor.
Beijos e risos frescos pela madrugada.
Falo-vos do desespero e também da dor
dos que tiveram a festa sempre adiada.
Há muito que a barca do meu tempo se fez ao mar.
Sou um nauta desembarcado que se convence
que é inútil (é impossível) tentar domar
o puro sangue que há no tempo que não nos pertence.
.
Miguel Afonso Andersen, do livro "Tríptico de Vozes"
(Portimão)
Fotografia - Filipe Santos Photography/Fotografia
que cada verbo tem um tempo de conjugação.
Há um tempo de semente,
há um tempo de gestação.
Depois é tempo de raiz, caule, folha e flor.
Venho falar do verbo amar.
Do tempo do amor.
Na minha taça nunca houve desse mosto desse fel
nunca dedilhei na guitarra do meu tempo, essa melodia
e se alguma vez, entusiasmado, domei esse corcel
mais não foi, do que o sonho de um só dia.
Se desse tempo de amor, algum foi meu
ah, então decerto que fui um Romeu
com Julieta já sequestrada.
Fui decerto Pedro já sem Inês.
D. Quixote sem Dulcineia.
Talvez Ulisses navegante e conquistador
com Penélope tecendo o linho, onde a espera fez
o desenho duma sereia.
Falo-vos do verbo amar. Tempo do amor.
Beijos e risos frescos pela madrugada.
Falo-vos do desespero e também da dor
dos que tiveram a festa sempre adiada.
Há muito que a barca do meu tempo se fez ao mar.
Sou um nauta desembarcado que se convence
que é inútil (é impossível) tentar domar
o puro sangue que há no tempo que não nos pertence.
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Miguel Afonso Andersen, do livro "Tríptico de Vozes"
(Portimão)
Fotografia - Filipe Santos Photography/Fotografia