Viageiro
Viageiro
é o que navega por um tempo sem idadee livre se abre por inteiro
ao espanto, à festa e à novidade.
Eu navego por mares já cansados, a descobrir
a ilha que há por dentro da palavra solidão.
Comigo anda o choro das guitarras de Quibir
e a memória coroada desse tal Sebastião.
Arde-me no corpo o marejar das ondas, como um sino
tocando a náufragos pelas pregas da ansiedade,
Flor de la mar? ou o cruel sinal deste destino
de navegar e naufragar em cada tempestade?
Há um toque de fado corrido na dança dos meus passos
e muito limo, muito sal nas sílabas deste meu canto.
Trago as naus da índia afundadas nos meus braços
nesta viagem de muito Sepúlveda e pouco Infante.
Do Cabo de nós até Cochim, com Fernão Pinto,
de Ceuta de Arzila até ao cativo suspenso em Fez
há a marca do mar e das navegações no que sinto,
neste meu sentir simples e salgado de ser Português.
Miguel Afonso Andersen, em "Tríptico de Vozes"
(Ferragudo - Portimão)
Fotografia - Praia Grande de Ferragudo, retirada da página Portimão, Você Está Aqui